15 de ago. de 2010

Sofisticada, mas popular

A construtora Tecnisa, reconhecida pelo alto padrão de seus empreendimentos, aposta no concorrido segmento de imóveis para as classes C e D. E quer negociar apartamentos como se vende televisão

No movimentado centro de Carapicuíba, cidade da região metropolitana de São Paulo, em meio a dezenas de lojas e grandes redes de varejo, uma vitrine chama a atenção. O que desperta o interesse de quem passa não é a fachada, mas, sim, os produtos oferecidos: apartamentos. E o local é estratégico.

Os vendedores querem aproveitar o preço das mercadorias oferecidas na vizinhança – televisores e móveis – como comparação às prestações da casa própria, que têm preço final entre R$ 130 mil e R$ 250 mil. Afinal, dependendo da renda e do prazo de pagamento, as parcelas mensais podem ficar em apenas R$ 150. Embora ainda seja pequeno, esse ponto de venda faz parte de um ousado plano de expansão da Tecnisa, construtora que faturou R$ 905,2 milhões em 2009.
Em lojas como essa, a empresa pretende entrar com força total no segmento de residências populares com a marca Tecnisa Flex. “Com o subsídio do programa Minha Casa, Minha Vida, essas parcelas poderão custar menos do que as de uma televisão nova”, afirma o fundador e presidente da Tecnisa, Meyer Joseph Nigri. “Por isso, colocar uma loja nossa ali faz todo o sentido.”
O que chama a atenção nesse negócio é que a Tecnisa sempre atuou no mercado de luxo, no qual fez fama ao vender imóveis de até R$ 2 milhões. O que motivaria uma empresa com esse perfil a entrar em um novo mercado?  “O segmento de imóveis populares é disparadamente o mais sedutor. A combinação entre oferta de crédito, juros menores, renda em alta e desemprego em queda cria o ambiente perfeito para a compra da casa própria”, afirma o economista Jair Alves de Souza, consultor de mercado imobiliário. “E isso, evidentemente, é o que atrai a Tecnisa.”
De fato, os números do setor impressionam. O volume de crédito habitacional da Caixa, principal fonte de financiamentos imobiliários, baterá recorde em 2010 e deve ultrapassar R$ 60 bilhões, 22% a mais do que em 2008. Entre janeiro e março, foram concedidos R$ 17 bilhões para a compra de imóveis, mais que o dobro dos R$ 8 bilhões do primeiro trimestre do ano passado. É por essa razão que a Tecnisa estima que, em até três anos, metade de seu faturamento virá de empreendimentos econômicos – o que marcará uma autêntica reviravolta nas estratégias da empresa. “O mercado imobiliário mudou. Estamos nos ajustando à nova realidade”, destacou Nigri.
Essa nova realidade vai muito além da loja de Carapicuíba. Cerca de R$ 2 bilhões em lançamentos para este ano estarão expostos em lojas em Diadema - (Breve no Shopping Praça da Moça), Cotia, Barueri, Guarulhos, Jundiaí, Mogi das Cruzes, São Bernardo do Campo, São José dos Campos, Sorocaba, Suzano, Praia Grande e Santos. Os imóveis terão entre 42 m2 e 85 m2.
E a empresa está com fome de lançamentos. Com as aquisições feitas no ano passado, o banco de terrenos atingiu um valor de R$ 5,4 bilhões. “Neste ano, daremos o maior salto em 33 anos de história. A expansão será maior até do que em 2007, quando captamos R$ 600 milhões com abertura de capital”, afirma Nigri. O presidente da empresa não diz isso à toa.
A inspiração da Tecnisa para entrar no segmento popular surgiu em 2009, um ano de crise, e o resultado foi surpreendente. Sem nenhum tipo de divulgação, a empresa lançou 1,3 mil apartamentos em Brasília. Resultado: tudo vendido no fim de semana de estreia. “Nunca tinha visto isso. Foi impressionante.”
fonte: Hugo Cilo - ISTO É DINHEIRO


TRABALHADORES DO PRÉ-SAL SÃO CAPACITADOS NO ABCD

Um dos maiores gargalos para a exploração do petróleo brasileiro na camada pré-sal, a falta de mão-de-obra técnica e especializada, pode ser minimizada no ABCD. Isso porque os trabalhadores do setor metalmecânico têm condições de atender à demanda das empresas da Região fornecedoras da Petrobras. Com a tradição do setor automotivo no ABCD, os profissionais estão passando por um processo de capacitação. Os cursos voltados para a área nos níveis superior e técnico ganharam mais destaque nas instituições de ensino do ABCD.


De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Diadema, Luis Paulo Bresciani, as oportunidades com o pré-sal absorverão mão-de-obra mais qualificada. “Como o setor metalmecânico na Região já segue essa tendência de qualificação, a transferência será mais rápida”, afirma. Já as atividades relacionadas à indústria química exigirão uma formação especializada. Nessa área, a Região conta com cursos específicos, alguns relacionados diretamente ao setor de petróleo e gás.
Entre as universidades da Região, a UFABC (Universidade Federal do ABC) investe na ampliação do laboratório de nanotecnologia do petróleo. O atual espaço de pesquisa, no campus da avenida Atlântica, em Santo André, será transferido para a sede principal da universidade, na avenida do Estado, em um ano e meio. As instalações exigirão investimentos de R$ 3 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas). O projeto está em fase de estudos e deve ser aprovado até o final deste ano.
O professor do Centro de Engenharia da UFABC, Sergio Brochsztain, explica que o laboratório de pesquisa já atende a disciplina de petróleo, mas a expansão é necessária, tendo em vista a criação de novos cursos. 
De acordo com o professor, foi criado na universidade um grupo de pesquisadores de nanotecnologia aplicada à área do petróleo. “Estamos explorando um filão que nem todas as indústrias conhecem”, adianta. Sergio explica que a tecnologia nesta escala permite melhorar a recuperação de petróleo durante a exploração.
A universidade ainda pretende abrir curso específico de engenharia do petróleo, mas, de acordo com Sergio, há dificuldade em encontrar docentes. Duas vagas abertas ainda não foram preenchidas. “O problema é que o salário inicial do professor é de R$ 8 mil,  enquanto a Petrobras, por exemplo, paga para um especialista entre R$ 20 a 30 mil”, explica.

MBA e técnico


O campus Eldorado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em Diadema, também conta com um curso de Engenharia Química com disciplinas voltadas para o petróleo, desde o refino, craqueamento à retirada do enxofre. A primeira turma, com 40 alunos, se forma no final de 2011, a maioria já estagiando em empresas da Região. A professora do setor de Engenharia Química, Romilda Fernandez Felisbino, acredita que a demanda para o curso deve aumentar. No ano passado foi criado o período noturno do curso.
No campo da gestão estratégica do petróleo e gás, o Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano, oferece MBA, focado na área de Negócios. O coordenador do MBA, Ricardo Rovai, explica que o programa é associado às questões geopolíticas, onde estão localizadas as principais jazidas, os clusters e principais equipamentos utilizados. “O curso já existia, mas com o pré-sal, emergiu”, afirma. 
Na área técnica, o Centro Paula Souza, que mantém as Etecs (Escolas Técnicas) vai inaugurar no ano que vem um curso com ênfase no setor de petróleo e gás, e com duração de dois anos. O processo seletivo será pelo sistema do vestibulinho. A coordenadora Rosangela Rodrigues Leme explica que a quantidade das vagas na ETE Lauro Gomes, em São Bernardo, ainda vai depender da procura pelo curso.

Empresas devem se preparar


A Região conta com 137 empresas cadastradas como potenciais fornecedores da Petrobras. O número é baixo em relação ao universo metalmecânico, que tem cerca de 3.000 empresas no ABCD. Para o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) regional São Bernardo, Mauro Miagutti, o número é reduzido, pois as exigências da estatal fazem as pequenas empresas terem dificuldades no cadastro.
O Secretário de Desenvolvimento de Diadema, Luis Paulo Bresciani, afirma que o nível de exigência é normal porque se trata de uma atividade complexa. “Qualquer falha em um componente pode representar um grande risco”, considera. Bresciani afirma que as empresas da Região podem ser fornecedoras ou subfornecedoras da Petrobrás, mas é necessário atender o nível de exigência. “O processo de cadastro não é simples, às vezes, leva tempo, por isso, é importante a preparação das empresas, que elas participem do processo de capacitação para se tornarem competitivas”, finaliza.
Para Miagutti, a burocracia afeta desde o preenchimento do cadastro às documentações necessárias e certificados. “A Petrobrás se comprometeu em acompanhar o processo de credenciamento, dar uma consultoria para ajudar as pequenas empresas, mas ainda falta esse apoio”, reclama.


fonte: Niceia Climaco - JORNAL ABCD MAIOR