22 de nov. de 2009

Lojas de rua continuam fortes na região

Apesar do forte avanço do setor de shopping center no Grande ABC, inclusive com novos investimentos anunciados para a região, o comércio de rua segue resistindo ao avanço deste concorrente e ainda é o preferido da maior parte dos consumidores, atraídos principalmente pelo preço baixo nas lojas dos centros da cidade e comércio popular.

Com cinco centros de compras na região, as cidades de São Bernardo, Diadema e Mauá contam com um complexo cada, enquanto que Santo André destaca-se com dois. Entretanto, na hora das compras, a população são-bernardense recorre à Rua Marechal Deodoro, tradicional reduto de compras da cidade.

"Aquelas lojas grandes de departamentos vivem inflando os preços, nas menores eu sempre tenho mais liberdade para negociar e levar tudo mais em conta", opina Maria da Conceição Cruz, moradora de São Bernardo. Para ela, a rua comercial tem até mais mercadorias do que os shoppings.

Como a maioria das grandes varejistas também está presente nas ruas, a consumidora Aline Moreira Oliveira, 25, sente-se estimulada a frequentar este tipo de comércio. "Além do fácil acesso, eu tenho o cartão das lojas, o que facilita mais."

Diadema - Moradores de outros municípios do Grande ABC também são atraídos pela variedade e preço baixo. A ajudante de cozinha, Graziela Maria dos Santos, 30, mora em Diadema, mas prefere se deslocar até a Rua Marechal, em São Bernardo, devido à variedade.

Em Diadema, existem dois centros de compras, além do Shopping Popular, no Centro. O comércio de rua também é robusto, com presença das grandes redes e pequenos estabelecimentos no mesmo local e nas proximidades da Praça da Moça, bastante frequentados pela população de baixa renda.

"Aqui é mais barato porque a concorrência é muito grande", afirma a dona de casa Nadia Diniz Comar, 55. Após a inauguração do Shopping Praça da Moça, os comerciantes locais ficaram preocupados, motivando a UCD (União dos Comerciantes de Diadema), a lutar por melhorias no comércio de rua da região.

Segundo os lojistas, a preocupação não é com a concorrência, mas com os investimentos que foram feitos para o shopping. Eles reclamam que não recebem o mesmo tipo de atenção das autoridades. "Parece que somos ignorados pela Prefeitura", diz Rita de Souza, proprietária de uma loja há 15 anos.

A comerciante ressalta que o problema maior é que os consumidores procuram comodidade e isso não pode ser com a ausência de policiamento ostensivo e melhorias nas calçadas, por exemplo. "Não temos como competir sem segurança e conforto. Pode até baixar o preço que não terá solução", conta Luiz dos Santos, dono de uma loja de calçados.

Santo André - O município de Santo André passou por problema semelhante com a abertura do ABC Plaza Shopping, mas o comércio de rua não perdeu freguesia para o shopping, como era temido pelos comerciantes.

Considerada forte no setor de comércio e serviços, a cidade é atendida por dois shoppings e ainda tem como opção as lojas da Avenida Oliveira Lima. O fortalecimento do setor de serviços no Grande ABC, especialmente em Santo André, deve-se ao fechamento e à migração das indústrias, ocorrido em meados dos anos 1990.

Diante deste cenário, a cidade optou por incentivar o desenvolvimento desses setores. Vários galpões, antes ocupados por fábricas, deram lugar a shoppings e mercados. Onde está localizado o Shopping ABC Plaza, na Avenida Industrial, por exemplo, ficava o terreno da Black e Decker, fábrica de ferramentas e eletrodomésticos que fechou na época da crise das indústrias na região.

São Caetano - São Caetano, mesmo com o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País - e um dos 35 maiores PIBs (Produto Interno Bruto) do - não possui um centro comercial estruturado, apesar de ser uma opção de compras e entretenimento para a população.

Quando se trata do comércio de rua, os moradores da região se deslocam até a Avenida Santa Catarina, próxima ao Centro Comercial ou para as cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo, que fazem divisa com o município.

Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, como são cidades dormitórios, não possuem ruas centrais onde se concentram comércio, fazendo com que os habitantes se desloquem até o Shopping Mauá, o estabelecimento mais próximo dessas cidades.

Em Ribeirão Pires há uma pequena concentração de lojas em torno da Praça Ernest Solvay, mas sem grandes redes. "É um absurdo uma cidade não ter comércio fortalecido". reclama Kátia Aparecida dos Santos, dona de casa, 29. Há um mês foi aniversário de seu filho e para comprar um presente ela levou mais de 30 minutos só para percorrer a distância entre sua casa e o shopping mais próximo.

O comércio emprega mais de 147 mil pessoas e outras 490 mil no setor de serviços no Grande ABC, de acordo com dados do Seade (Fundação Sistema de Análise de Dados e Estatísticas). Levando em consideração que o setor de serviços também está inserido no comércio, o número de trabalhadores no ramo é ainda maior.

Temporários - Como ocorre normalmente no mês de outubro, o comércio inicia as contratações temporárias em todo o Brasil. Para este ano, é esperada a abertura de pelo menos 113 mil vagas. Os shoppings da região também abrem mais de 2.300 oportunidades de emprego. As vagas mais procuradas são de fiscais de loja, empacotadores, etiquetadores, auxiliar de crédito, analista de crédito, atendentes e Papai-Noel.

Em Santo André, o Shopping ABC planeja oferecer mais de 1.000 vagas temporárias, sendo considerado o que tem maior número de oportunidades temporárias na região.EM

O ABC Plaza, também em Santo André, conta com 800 vagas de empregos, mas os contratos não trazem garantias de efetivação.

Em Diadema, o Shopping Praça da Moça, abrirá cerca de 500 vagas para vendedores, seguranças de lojas, gerentes e estoquistas. O Mauá Plaza Shopping deve ampliar o quadro de funcionários em 30%, mais do que o dobro do ano passado.

Recentemente foi inaugurada a expansão do shopping, que trouxe lojas de grandes marcas para Mauá.

Antes da crise econômica mundial, entre 30 e 35% dos funcionários temporários eram efetivados. Para este ano é esperado que apenas 17 % de trabalhadores sejam contratados definitivamente.

Serviço: os interessados nas vagas devem entregar currículo na administração dos shoppings ou diretamente nas lojas. Em Diadema, o trabalhador tem a opção de procurar o Centro Público de Emprego, Trabalho e Renda.

Pequeno varejo investe na qualidade do atendimento
Bruna Zappa*

Quando uma região dá espaço para a construção de um shopping center, o primeiro pensamento dos comerciantes é como manter a freguesia apesar da forte concorrência. Mas lojistas da Avenida Brasília, em Diadema, e da Avenida Taboão, em São Bernardo, afirmam que pouca coisa mudou depois do surgimento dos shoppings. "O que fizemos foi melhorar o atendimento para cativar clientes", pontua Cleozânia Pacheco, comerciante, 20, que tem uma loja de roupas há dois anos em Diadema.

"Tratamos o cliente com todas as mordomias, eles sempre reclamam que no shopping não há relação entre vendedor e cliente'', diz a lojista. Além do atendimento, lojas de rua são conhecidas por negociar preços e aumentar prazos de pagamentos. "Clientes mais fiéis têm facilidades na minha loja por serem bons pagadores. Para eles, sempre tem promoção", explica Cleozânia.

Fidelizar clientes é a chave para comércio popular. A vendedora Daniele de Araújo Silva conta que para atrair novos consumidores, o jeito é atender aos pedidos com rapidez e preço bom. "Quando chega produto novo, ligo para minhas clientes e elas vêm olhar. Normalmente, levam o que indiquei", conta.

Para a auxiliar de escritório Camila Borges, 21, mais do que preços ou formas de pagamento, o que a faz comprar em lojas de rua é o tratamento recebido. "A gentileza das vendedoras é muito diferente da grosseria que encontro no shopping", disse. Porém, quando quer mais qualidade nos produtos, Camila vai ao shopping. Ela afirma que para economizar costuma frequentar mais as lojas do bairro, mas se necessita de itens mais duráveis, como roupas de festa, nem pensa duas vezes. "Vou logo ao shopping", diz.

Fernanda Rodrigues, de 30 anos e vendedora há 14 de uma loja de roupas, acha que a concorrência é saudável. Para ela, a influência dos shoppings fez todos da região investirem em modernização do atendimento, como aceitar todos os cartões de débito e crédito. "Não foi uma alternativa de venda, mas um avanço para mostrar que o público do bairro também tem a possibilidade de comprar com cartão."

Jéssica Xavier*

* O conteúdo editorial desta página é de responsabilidade da Universidade Metodista de São Paulo, com supervisão editorial da jornalista Margarete Vieira Pedro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os comerciantes de Diadema quando mantinham o monopólio nunca reclamaram de nada, pelo contrário praticavam preços superiores ao de outras cidades do ABCD. Agora chegou forçadamente a hora de investir na estrutura das lojas, na qualidade no atendimento,em preços competitivos e na variedade de produtos. Ganha a população outrora refém.
JOMADAS