16 de ago. de 2009

Região aposta nos imóveis populares

Por: Mauricio Milani (pauta@abcdmaior.com.br)

Se o mercado imobiliário do ABCD viveu momentos de baixa no último trimestre do ano passado e no primeiro deste ano, o cenário começou a mudar a partir de abril e apresenta perspectivas animadoras, traduzidas em nicho até então pouco atendido: o de baixa renda. A Região tem déficit calculado em 80 mil moradias, 90% delas nas classes C e D. O programa Minha Casa, Minha Vida, lançado pelo governo federal em abril para famílias que ganham até dez salários mínimos, tem mobilizado não só potenciais compradores como também todo o segmento de construção.

“Vale lembrar que na faixa de seis a dez salários muitas construtoras já trabalham há anos. Para a faixa de zero a três salários, o problema da construção no ABCD é o custo alto do terreno. É preciso que as prefeituras doem as áreas e façam a infraestrutura”, observa Milton Bigucci, presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC) e vice-presidente do Interior do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo).

O déficit habitacional do País é de aproximadamente 7 milhões de moradias, das quais 90,9% para famílias de zero a três salários mínimos (até R$ 1.395). Na Região, do déficit estimado de 80 mil moradias, aproximadamente 72 mil são de famílias nessa faixa de renda. No Brasil, o déficit tem até endereço: está concentrado nas regiões Sudeste (36,4%) e Nordeste (34,3%), segundo o IBGE (PNAD 2007).

Santo André foi a primeira cidade da Região a protocolar na Caixa Econômica Federal os primeiros projetos habitacionais voltados a quem ganha até três mínimos. Cinco projetos foram entregues no início deste mês para a construção de 2,2 mil unidades. As inscrições encerram-se no próximo dia 21 e podem ser feitas pelo site www.santoandre.sp.gov.br. Mauá, São Bernardo e Diadema também aderiram ao programa.

“Antes do lançamento do Minha Casa, Minha Vida, para uma família se candidatar à compra de um imóvel de R$ 90 mil, tinha de comprovar renda de R$ 3,3 mil. Com o programa, essa mesma família precisa de renda de R$ 1.850 para adquirir o mesmo apartamento”, diz João Crestana, presidente do Secovi-SP.

Demora
O processo todo, do projeto à concretização, não tem sido tão rápido quanto querem os que sonham com a casa própria. “Demanda um tempo de reflexão, análise de mercado e preparação de pessoal, até o lançamento das unidades”, argumenta Celso Petrucci, economista-chefe e diretor executivo do Secovi-SP.

“O grande mérito do Minha Casa, Minha Vida é adaptar a prestação do imóvel ao bolso do consumidor, dando subsídios para isso. Em todo lugar do mundo só se consegue fazer habitação popular com subsídio”, lembra Milton Bigucci, que também é proprietário da construtora MBigucci e acaba de criar empresa focada em empreendimentos econômicos, a BigTec. “Atender a demanda habitacional da população de baixa renda é trabalho para mais dez a 15 anos”, avalia o presidente da Acigabc.

Programa federal
O programa Minha Casa, Minha Vida prevê investimentos de R$ 34 bilhões, vindos do governo federal e do FGTS, para construir 1 milhão de moradias. Volta-se a três faixas de renda: de zero a três mínimos (R$ 1.395), de três a seis (R$ 2.790) e de seis a 10 (R$ 4.650).

Os maiores benefícios são para quem tem renda na primeira faixa: prestação de no mínimo R$ 50 e no máximo 10% da renda, por dez anos, registro gratuito em cartório de imóveis e, no caso de desemprego, seguro que cobre a prestação por três anos. O subsídio do governo para esta faixa, que prevê a construção de 400 mil moradias, é de R$ 16 bilhões.

Na faixa de três a seis mínimos, também estão previstas 400 mil moradias, com condições de financiamento diferentes. O valor da prestação não poderá superar 20% da renda do comprador do imóvel. Aqui o subsídio do governo será de R$ 2,5 bilhões, e o do FGTS, de R$ 7,5 bilhões.
Já pessoas com renda de seis a dez mínimos são estimuladas com o acesso ao Fundo Garantidor, que refinancia parte das prestações em caso de perda de emprego, e redução no custo do seguro. Estão previstas 200 mil moradias nesta faixa.

O preço do imóvel poderá ser de até R$ 130 mil em regiões metropolitanas, caso do ABCD; até R$ 100 mil para cidades com mais de 500 mil habitantes; e até R$ 80 mil para os demais municípios.
Para quem tem renda até três mínimos, a inscrição e seleção dos participantes são feitas pelos estados e municípios, nas agências da Caixa e pelo telefone 0800-726-0101. Interessados com renda superior a três mínimos devem procurar as construtoras.

Sonho
Se existe um sonho que é comum a dez entre dez brasileiros que pagam aluguel é o da casa própria. Juros menores e mais crédito voltado ao financiamento e ao setor de construção podem concretizar o desejo de moradores do ABCD, como a balconista Eliete Maia Batista, 40 anos, que vive em São Bernardo com a filha de três anos.

“Ter minha casa é o que mais quero, é uma segurança. Sempre vivi de aluguel e para a compra da casa própria costumam exigir valores altos. Hoje em dia até para alugar está difícil, porque pedem fiador”, diz Eliete, que é separada do marido e trabalha como balconista. “Se o valor da prestação fosse mais baixo, é claro que me interessaria”, afirma, em referência ao programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Eliete se encaixaria na faixa de renda até três salários mínimos, a que conta com maiores benefícios no caso da compra do imóvel.

A balconista compartilha o sonho da casa própria com Lícia Lopes de Souza, 43 anos, dona de casa, viúva e mãe de três filhos entre 14 e 20 anos, que moram com a avó em Minas Gerais. Lícia vive em São Bernardo com a prima, que paga aluguel. A renda da dona de casa está na faixa até três salários mínimos. “Meus filhos também estão para vir morar em São Bernardo. Sonho em ter minha casa aqui no ABCD”, resume.

O tamanho do sonho da casa própria pode ser medido na Região pelo número de lançamentos no primeiro semestre deste ano. De acordo com a Acigabc, de janeiro a junho foram lançados 1.541 apartamentos em Santo André, São Bernardo e São Caetano

Um comentário:

Anônimo disse...

É muito bom ler isso, pois os apartamentos estão extremamente caros! Apartamentinho de 50 m² custando mais de 100 mil reais, q absurdo! - Luiz