2 de jul. de 2008

Timão 'adota' equipe de futebol americano de Diadema




Thiago Silva
Do Diário OnLine

Tudo começou em campos de várzea de Diadema. Há quatro anos, Paulo Santos e Cauê Martins largaram o vídeo-game e começaram a bater bola na rua. Até aí, nada demais, a não ser que a ‘pelota' era oval e o esporte, praticado com as mãos, tem o nome de ‘futebol americano'. Com mais alguns amigos, eles resolveram formar o time Steamrollers (rolo compressor, em português).

Com o grupo montado, Paulinho e Cauê inscreveram a equipe no campeonato paulista da modalidade, a LigaFlag, em 2006. Já no ano de estréia, o Steamrollers conquistou o segundo lugar e, em 2007, o terceiro. Os bons resultados fizeram o dirigente e jogador do time, Ricardo Trigo (ele se juntou à equipe em 2008), entrar em contato com o Corinthians para tentar uma parceria. "Como eu conhecia alguns integrantes do clube resolvi enviar um e-mail para o Felipe Ezabella [vice-presidente de Esportes Terrestres do Timão] e em dois meses fechamos contrato", lembrou Trigo.

Agora, o novo nome da equipe é Corinthians Steamrollers, que é o atual líder da Divisão Sul da LigaFlag. "Nos interessamos pela modalidade que cresce a cada dia no Brasil, tendo em vista o interesse principalmente dos jovens nesse esporte", destacou o Ezabella. Com a parceria, o time de Diadema pode treinar no Parque São Jorge e ganha o material esportivo. "Também todos os atletas, em um futuro próximo, poderão ficar sócios do clube, como parte do projeto de sócios militantes que possuímos", garantiu o dirigente do Timão.

Segundo Trigo, 90% dos jogadores são torcedores do Corinthians, mas mesmo os outros 10% defendem a camisa da equipe do Parque São Jorge como "a segunda pele". "Afinal o clube acolheu o sonho deles de poder fazer parte de uma grande nação e ter o respaldo do nome Corinthians e a estrutura do clube. Se não fosse isso a imprensa não estaria nos procurando", ressaltou.

Apesar da parceria, Trigo ainda disse que o Steamrollers busca mais um patrocínio para a equipe. "Estou fechando uma parceria com um município, para nos ceder condução, dinheiro, compra de equipamentos e até a construção de um centro de treinamento", disse o jogador, que não quis revelar o nome da cidade. "O departamento jurídico do município, que fica a 80 km de Diadema, está confeccionando o contrato, mas já temos apalavrado com o prefeito e o secretário de esportes", revelou.


Futebol americano ainda tem muito a crescer

Apesar do esforço dos jogadores brasileiros, o futebol americano em terra ‘tupiniquim' ainda é amador, diferente do esporte praticado nos Estados Unidos, onde é venerado por milhares de torcedores. "O Super Bowl [final da a competição norte-americana - a NFL] tem 180 milhões de telespectadores", lembrou Ricardo Trigo, dirigente do Corinthians Steamrollers.

A diferença da modalidade entre os dois países, no entanto, não termina na quantidade de público. Com a falta de dinheiro, o futebol americano em São Paulo não tem todos os equipamentos necessários, principalmente os de segurança (ombreiras e capacetes). "Com isso, substitui-se o conhecido 'tackle' [quando o atleta de defesa derruba o de ataque da equipe adversária com a posse de bola para encerrar a jogada], por um par de fitas na cintura, que devem ser retiradas para encerrar a jogada", explicou Trigo. O campo também é marcado por cones.

O número de jogadores em campo na LigaFlag também é diferente do campeonato dos Estados Unidos. Enquanto em São Paulo tem somente oito atletas atuando, a NFL tem 11. A modalidade não tem categorias e jogadores com menos de 18 anos atuam junto com os mais velhos.

"O esporte agrega as pessoas. Um atleta ‘pequeno' é tão importante quanto um maior", garantiu o presidente da LigaFlag, Daniel Miura. Quem tem menos de 18 anos precisa de uma autorização dos pais para atuar na competição. O dirigente ainda lembrou que cada estado do Brasil trabalha de acordo com sua realidade e, por isso, as regras são diferentes.

Sem lucros por enquanto

Como o futebol americano não é profissional no Brasil, os jogadores têm outros empregos para se manterem financeiramente. "Temos estudantes de publicidade, direito, biologia, física, química e até um tenente do Exército", lembrou Ricardo Trigo, diretor do Steamrollers.

Para disputar a LigaFlag, cada time precisa pagar uma taxa mensal. "Nós precisamos do dinheiro para manter a competição", justificou o presidente da Liga, Daniel Miura, que não quis revelar a quantia.

Apesar ‘do ainda amadorismo', o vice-presidente de esportes terrestres do Clube do Parque São Jorge, Felipe Ezabella (responsável pela parceria do Corinthians), confia na evolução da modalidade. "Ainda há muita estrada a percorrer, mas tenho certeza que as pessoas que administram a Liga têm ciência disso e juntos, com os pés nos chãos, daremos um passo a cada vez para conseguirmos popularizar e passar de vez de uma brincadeira de amigos [como começou] a um esporte de alto rendimento", disse o dirigente.

Sobre a parceria entre o Corinthians e o time de Diadema, Ezabella deixou bem claro que o clube da capital não tem nenhuma pretensão de lucros no início do projeto. "Pelo o que eu acompanhei até agora, acredito que o esporte ainda está engatinhando, e é também por isso a importância do Corinthians fazer parte desde agora, pois poderá ajudar a desenvolvê-lo e acompanhará todos os seus passos até uma futura profissionalização", afirmou.

Outros grandes - Não foi apenas o Corinthians que se interessou pelo esporte. Palmeiras, Portuguesa e São Bento (que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista) também criaram parcerias com o esporte em São Paulo. "Com os clubes no futebol americano, a modalidade ganha força, principalmente para a conseqüência do esporte. Todo mundo ganha", garantiu o Miura.

Segundo o presidente, existem cerca de 15 mil jogadores de futebol americano em mais de 300 equipes no Brasil. Apenas em São Paulo, são 300 atletas em 20 times. Mas Miura disse que esses números eram menores há três anos. "Com a maior divulgação pela internet e a TV a cabo, principalmente, houve um ‘boom' de 2005 para 2006", lembrou.

Agora, além das 20 equipes da Divisão Principal da LigaFlag (criada em 2001), existe uma espécie de segunda série com mais nove times novatos

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