18 de jan. de 2014

Hortas ocupam terrenos baldios e mudam a paisagem urbana em Diadema

Há dez anos, um dos municípios mais densamente povoados do país, Diadema, na Grande São Paulo, está modificando seu cenário com a produção de alimentos em hortas urbanas comunitárias. Terrenos antes utilizados para o descarte de lixo e entulhos, além de atraírem usuários de drogas, hoje produzem alimentos como hortaliças, melancia, morango e até milho. Além da prevenção ao mau uso dos espaços, as hortas, que fazem parte de um programa da prefeitura chamado Agricultura Urbana, ajudam moradores na geração de renda e na preservação do meio ambiente.

Moradores trabalham em antigo terreno baldio com o cultivo de hortaliças na periferia de Diadema (Foto: Marcos Luiz/Divulgação Prefeitura de Diadema)

“Inicialmente, a intenção era justamente produzir alimentos naturais onde há carência, como as partes periféricas da cidade. Hoje, a produção de hortaliças orgânicas não só reflete na renda da família do participante, como também aumenta a oferta desse tipo de produto nas imediações da região”, diz o técnico agrícola George Franklin, da prefeitura do município.

O programa foi impulsionado por linhas de financiamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2003, mas, nos últimos três anos foi intensificado. Além das hortas, os espaços também abrigam programas ocupacionais e educacionais.

No total, Diadema conta hoje com 26 hortas ativas, totalizando 12 mil metros de área cultivada com produção de aproximadamente 12 toneladas mensais - uma média de um quilo de alimento por metro quadrado.

No início, uma equipe do governo procurava possíveis terrenos para a implantação das hortas, com a limpeza do terreno, cerca, adubação e plantio de mudas. Hoje, a população já faz os pedidos para a criação de novos espaços. Quinze hortas ainda estão na lista de espera para serem implantadas. A prefeitura reconhece que a demanda é grande e tem dificuldades para atender todas as famílias cadastradas.

Mesmo assim, o coordenador operacional do programa, José Antoniel Gomes, diz que até o final do atual governo mais 100 hortas devem ser implantadas. “Pretendemos utilizar todos os espaços que não tenham um aproveitamento correto para implantar novas hortas. Uma vez que a implantação feita, é possível mudar o visual da cidade e principalmente o pensamento das pessoas”.

Alguns horticultores já tinham convívio e algum conhecimento em cultivo, mas a maioria era formada por trabalhadores da indústrias ou comércio com uma cultura urbana, sem qualquer contato com a agricultura. Para apoiar os iniciantes, o programa conta com uma equipe de 15 pessoas que circulam pelas hortas diariamente orientando a população sobre os cuidados na manutenção dos canteiros, além de fornecer mão de obra e produtos como sementes e mudas.

Geração de renda

A grande demanda pela implantação de novas áreas gera dificuldades para atender todas as famílias cadastradas. (Foto: Silene Silva/Ed. Globo)

As hortas não utilizam agrotóxicos, o que impede o risco de contaminação do solo, nascentes, animais e trabalhadores. A produção, além de adequada à tendência da busca por alimentos saudáveis, está alterando sifnificativamente a vida dos moradores. 

As donas de casa Maria Oliveira Urbano e Lucimara Rodrigues Silva, que sofriam de depressão, participam do programa na modalidade ocupacional, cujo objetivo é ajudar os moradores no tratamento da saúde. “Antes, eu vivia em hospitais. Quando iniciou o programa em minha comunidade, comecei a trabalhar no cultivo e minha saúde e alimentação melhoraram. Para mim, está sendo uma terapia”, conta Maria. Lucimara também teve melhora na saúde, e viu a da filha, de 9 anos, beneficiada com a boa alimentação.

Além do consumo próprio, os moradores vendem o excedente ou doam o produto a entidades sociais em quantidades que variam. Também não há um valor absoluto sobre a venda das hortaliças. Alguns moradores obtêm um complemento de renda que pode chegar a R$ 700 por mês. Nas hortas, um pé de alface pode custar até R$ 2,00, sendo que em feiras e supermercados o produto orgânico sai por cerca de R$ 3,50.

Educação ambiental e agrícola

       As crianças do projeto em um dos canteiros escolares (Foto: Divulgação Prefeitura de Diadema)

Além das hortas ocupacionais, Diadema também trabalha com hortas voltadas para a educação. São sete pequenas lavouras implantadas na rede municipal de ensino para que os alunos possam comer alimentos cultivados por eles mesmos na própria escola.

As crianças sentem-se entusiasmadas com a responsabilidade e botam o pé na roça. Os professores fazem a junção da atividade nas hortas com o conteúdo ministrado na sala de aula.

A experiência de plantar e colher torna natural a curiosidade de se alimentar de forma mais saudável e serve como incentivo aos familiares porque os alunos também podem levar o resultado do cultivo para casa. “O contato com o cultivo gera expectativas nas crianças em consumir os produtos que ajudaram a plantar” diz George.

fonte: SILENE SILVA DE DIADEMA - globo rural

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